O aumento da longevidade e a multiplicação das especialidades farmacêuticas estão a moldar o desenvolvimento da logística e da distribuição, fazendo com que a saúde seja um dos motores de crescimento da DHL. Isso mesmo foi atestado pelo CEO da DHL Supply Chain no Reino Unido e Irlanda (UK&I), Saul Resnick, numa visita guiada a algumas das principais operações na região.
Uma visão alavancada no recente radar de tendências do grupo, cujas principais linhas foram dadas a conhecer por Christopher Fuss, Global Innovation Lead. Entre elas está precisamente o prolongamento da esperança de vida, que coloca desafios à saúde e à medicina, mas também dá origem a uma supply chain “completamente diferente”.
E diferente desde logo – como salientou o CEO da região UK&I – uma das cinco em que se organiza o grupo DHL – porque se trata de uma indústria muito regulada, visada por restrições legais que implicam um maior controlo. Mas diferente também dadas as especificidades do produto, que coloca desafios ao nível da eficácia, obrigando à instalação de estruturas multitemperaturas, seja nos armazéns, seja na distribuição.
A outro nível, a longevidade promove o surgimento de novas especialidades farmacêuticas, como a imunoterapia, conduzindo, em simultâneo, a uma maior especialização da distribuição. Foi este cenário que levou a DHL a adquirir, há cerca de um mês, a CryoPDP, especializada em soluções de transporte para produtos sensíveis: “É um pequeno negócio à nossa escala, mas tem uma qualidade de nicho que é valiosa”, justificou Saul Resnick,
Face a este contexto, o plano estratégico do grupo prevê um investimento de dois mil milhões de euros, até 2030, em capacidade de armazenamento para healthcare, visando criar uma rede dedicada.
Um dos parceiros da DHL Supply Chain neste domínio é a Accord Healthcare laboratório farmacêutico originária da Índia cujo principal centro de distribuição no Reino Unido se localiza em Didcot. O que se explica pelo facto de o Reino Unido ser o segundo mercado da multinacional: de acordo com Jonathan Wilson, senior vice-president, a empresa fornece 10% dos medicamentos consumidos na região (em volume).
Os genéricos e biossimilares constituem o principal foco do negócio, que, em simultâneo, aposta nas especialidades médicas, em particular a oncologia. No horizonte está o investimento em saúde animal, mas também medicamentos derivados do sangue e do plasma.
A relação com a DHL teve início há cerca de duas décadas, sendo que as instalações de Didcot possuem 30 mil localizações para paletes, enviando um milhão de unidades por dia, num total de 29 mil encomendas. Deste armazém, além do Reino Unido, saem medicamentos para 30 países de todo o mundo.
A funcionar há seis anos, possui uma sala dedicada a medicamentos psicotrópicos, sujeita a elevadas medidas de segurança, bem como um espaço de armazenamento de frio, em que as temperaturas oscilam entre os dois e os oito graus positivos, com capacidade para 320 paletes. Esta é uma área em crescimento para a Accord, que estima duplica-la nos próximos anos.
A tecnologia está igualmente presente em toda a operação, em linha com uma das tendências identificadas no radar da DHL. A propósito, o Global Innovation Lead contextualizou que o futuro da logística será influenciado por fatores como a globalização, o e-commerce, as alterações climáticas, a digitalização e a força de trabalho. É com estas linhas que trabalham os quatro centros de inovação do grupo – nos Estados Unidos, na Alemanha, no Dubai e em Singapura.
O da Alemanha inicia, em outubro, uma nova era, com a inauguração de um novo centro que combina dois grupos de forças – Inteligência Artificial, em particular a Generativa, que está a deixar “uma grande pegada” na logística, e sustentabilidade. É que a futura estrutura será totalmente em madeira e totalmente reciclável.
No que toca à inovação, a abordagem da empresa tem como denominador comum oo conceito de “real innovation”: “Precisamos de escala para inovar, os nossos fornecedores não podem ser startups”, comentou Christopher Fuss, no que foi secundado por Tim Tetzlaff, global head of Accelerated Digitalization da DHL Supply Chain: “De outra forma, é só uma boa ideia”.
É o que está subjacente à parceria com a Boston Dynamics em matéria de robótica – “um dos aceleradores do negócio” – e que conduziu ao desenvolvimento do Stretch, o robô que vem permitir responder aos desafios colocados pelo chamado “efeito Amazon”. Os clientes exigem entregas no mesmo dia, o que coloca uma pressão sem precedentes sobre a logística, confrontada com questões como a escassez de recursos humanos e a dificuldade em reter talento, mas também com a falta de espaço de armazenamento e um ritmo tecnológico ímpar. São fatores – disse – que condicionam a seleção da tecnológica. “Dependendo da tecnologia, pode melhorar as operações entre 50 a 300%”, comentou, referindo-se ao impacto nas operações, mas também à forma como o papel das pessoas nos armazéns tem vindo a mudar.
Isso mesmo foi possível comprovar no armazém da DHL Supply Chain em Coventry, cuja operação é focada no retalho e no comércio online. É aí que está a ser testado um dos cinco Stretch que estão no Reino Unido – os restantes, de um total de dez, operam nos Estados Unidos e na Alemanha. Até final do ano, a DHL UK&I espera receber 20 unidades e, no horizonte de 2030, deverão somar mil.
É na descarga de contentores que está a ser testado, sendo identificadas como vantagens o facto de ser 1,5 vezes mais rápido do que um operador humano e de ter a capacidade de trabalhar vários turnos seguidos, o que faz disparar a produtividade. Ao mesmo tempo, é destacada a sua flexibilidade, sendo possível transferi-lo entre armazéns em função dos picos de atividade. A flexibilidade decorre, ainda, da capacidade para operar com diferentes tamanhos e formatos de caixas, bem como do potencial para ser exportado do retalho para outros verticais, como automotive.
Com um retorno de investimento estimado em três a cinco anos, será utilizado apenas nos mercados em que haja um business case que o justifique, no entendimento de que em operações mais pequenas pode ser suficiente uma tecnologia mais simples. E, de acordo com a DHL, a verdadeira aceleração ocorrerá quando for possível adaptá-lo a funções como o picking.
E é exatamente no picking que um dos pisos deste armazém de Coventry exibe uma “família” de 44 robôs “follow me”. Numa iniciativa que visou aproximar a tecnologia das pessoas, os operadores foram desafiados a dar nomes a cada um destes equipamentos, agora batizados como Beyoncé ou Pavarotti. São eles que agilizam a operação deste piso dedicado exclusivamente à Sephora e no qual a automação se estende ao embalamento, com duas linhas que, numa hora, tratam 600 encomendas – correspondendo ao trabalho de nove pessoas.
A funcionar há dois anos, este é um dos 450 armazéns e outros espaços da DHL Supply Chain no Reino Unido e Irlanda, uma operação que inclui ainda mais de cinco mil veículos próprios e emprega 36 mil pessoas.
Fonte: Supply Chain Magazine